Me chamou a atenção a notícia de que o USA Today, jornal americano com mais de 30 anos de existência, pediu a equipe editorial que desse perspectiva única no que escreviam. A decisão de encorajar os jornalistas a “não serem objetivos” ao noticiar repercutiu na mídia especializada.
A grande questão levantada em torno do fato é da crescente tendência do público dar mais ouvidos a pessoas do que marcas. Algo que no jornalismo se reflete em jornalistas ganhando mais popularidade do que os veículos que trabalham, sobretudo em plataformas online.
Mas por quê?
Uma justificativa para essa tendência pode ser encontrada ao observar o cenário informativo que vivemos. A oferta de informação, em qualquer formato, é absurdamente grande, ainda mais se combinadas as mídias online, social e offline. Qualquer veículo (e alguns casos até algoritmos) nos informa a condição do trânsito, a cotação do dólar e outras coisas corriqueiras e “objetivas”.
Mas, uma leitura crítica desses e outros fatos, abordando perspectivas que vão muito além do simples número ou dado – só o jornalista, a pessoa, é capaz de nos trazer. As novas mídias entregam o factual com tanta rapidez e facilidade, que isso já não cativa o público. E este quer ir além de saber o fato, mas se envolver, entendê-lo.
Essa preferência da audiência não é tão nova. Pois programas à lá “Cidade Alerta”, em que o apresentador vai (muito) além de mostrar as notícias, não fariam sucesso há tantos anos na televisão. Talvez a internet só tem materializado ainda mais isso.
Pagar pelo jornalista?
Além do caso USA Today que citei no começo, tenho outro exemplo interessante que ilustra a aposta de veículos em pessoas, indo além da marca. O holandês DNP lançou um modelo de paywall em que o leitor pode assinar apenas os jornalistas de sua preferência, ficando mais barato e personalizado do que o plano “total”.
Jornalistas são sociais
O Twitter também é um bom lugar para observamos a preferência do público por jornalistas aos veículos. Um exemplo no Brasil é o jornalista André Trigueiro.
Especializado em meio ambiente, Trigueiro soma, no momento em que escrevo este post, mais seguidores no microblog do que o Cidades e Soluções, programa que comanda na Globo News, que também perde para o repórter em seguidores (51 mil x 17 mil x 15 mil respectivamente).
É claro que nem todo jornalista chega a esse status, e ainda precisamos daqueles que produzem conteúdo “objetivo” (eu também não acredito em total objetividade, estamos falando é daquele estilo ‘curto e grosso’ do repórter mesmo). Ou o jornalismo vai mesmo adotar modelos mais pessoais e acabar com o velho estilo, exaltando a figura humana dos veículos?
Fonte: Coluna Digital